Léo;
Talvez eu me apaixone cedo demais. Não considero isso um erro, mas parece que não dá certo. Acho que é preciso estarmos abertos, muito abertos, extramente abertos, arreganhados e arrombados pra receber amor e ser capaz de retribuir. Acho que a cidade fez as pessoas duras e impenetráveis e cinzas e é preciso de muito esforço pra fazer funcionar, a gente fica numa briga interminável pra tentar manter as coisas simples, mas elas complicam, é a ordem das coisas, e é preciso estar aberto pra aceitar, pra retribuir. É curioso esse paradoxo, Léo, que a cidade nos fez frio com seu individualismo mas nos deu a carência, e em vez de nos abrir-mos para nos salvarmos, nos recluímos e sofremos. Mas o sofrimento nesse caso é uma questão de hábito. Nos habituamos a estar sozinhos e a viver com esse vazio, que é opcional. Eu, Léo, assumo minha carência e necessidade de você, de um abraço, de um beijo. Mas é preciso tingir-se, é preciso colorir-se, essa cidade não pode te infectar, Léo, seja branca, seja clara. A gente não sabe o que quer, mas estamos carentes. Somos necessitados. Somos africanos. Somos etíopes românticos. Pobres de coração.
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