terça-feira, 20 de outubro de 2009

Léo;

Faz uma semana que aqui estou e ainda não saí do meu quarto, no décimo sexto andar. Como sabes, vim para cá para conhecer a solidão de perto e creio que esteja indo muito bem no meu objetivo. Faz três dias que penso em suicidio e ontem comecei a ouvir vozes. A janela me chamava para perto, sussurrava que queria falar comigo, pertinho do meu ouvido. Continuo tendo medo de tudo, principalmente no banho. Tenho medo de escorregar e cair de cara no ralo, desmaiar e morrer afogado na água acumulada. E medo de sair daqui. Estou sozinho, e era isso o que eu queria, não há amigos nem família e eu posso fazer o que quiser, e eu quero ficar nesse quarto o dia inteiro, sem tomar banho, sem comer e sem pensar. Mas eu não consigo dormir. Todo esse tempo sem dormir atrofiou meu cérebro e eu não durmo mais, e eu quero dormir, mas não consigo, eu só fico deitando na cama, encarando a luz fraca no teto e tendo medo da parede e dos gemidos do casal no quarto ao lado.
O calor é insuportável e eu tiro a minha roupa, me masturbo muitas vezes ao dia, até ficar exausto, e tento dormir de novo, mas falho outra vez. Mas tiro fotos. Fotos e mais fotos desse mesmo quarto, em todos os ângulos e posições, horários e dias. Eu quero me lembrar de quanto eu encarei a morte de frente. Fui à janela e olhei dentro do olho da morte e disse "Vem, sua puta, que de você eu não tenho medo", eu tenho medo é da vida, do amor, a morte é companheira, a morte faz a vida tolerável, a tranquilidade de saber que vou morrer é o que me mantem vivo.
Tento escrever também, mas nada sai de minha mente. O vazio desse quarto é o vazio que há em mim. Tu sabes como é ter o estômago vazio e o peito cheio de fumaça?
Eu saí de São Paulo pra fugir do conhecido e aqui conheci a solidão e a morte de perto, minhas companheiras de anos, mas a quem eu nunca havia sentido a presença com tanta singularidade. É quando nos vemos longe de tudo e sem saída que os verdadeiros amigos aparecem. Comigo caminha a solidão, que está em tudo onde há nada, como dentro de mim, e neste quarto. Comigo caminha morte, que é essa coisa atrás de mim dizendo que no fim é ela quem vai me embalar, e dormir de conchinha comigo, me fazendo carinho e perguntando de quinze em quinze minutos se está tudo bem, porque se não estiver, eu sei que posso contar com ela.

Um comentário:

Camila S. disse...

Lindo o texto. As duas grandes certezas da vida: a solidão e a morte. A primeira te acompanha sempre, mesmo você estando rodeado de gente, nunca te abandona. A morte, é o fim para todos, todos a temos como parada final, é como todos iremos terminar nossas histórias. Das coisas universais.