sábado, 19 de junho de 2010

Léo;

Meu pai teve um acidente com a moto e quebrou o pé e a mão.
Eu descobri que um amigo meu de infância tem uma espécie de catálogo. Tem várias fotos nossas e de nossos amigos de quando a gente era criança, com o nome completo de cada um deles e coisas que ele gosta detalhamente expostas como se fossem um enciclopédia. Quando eu vi fiquei meio assustado, porque parecia uma coisa meio psicótica, mas depois eu entendi o que ele estava fazendo ali. Ele disse que não queria esquecer, que estava ali pra ele lembrar. Eu não acho que ele esqueceria de tudo aquilo, mas entendi qual foi o impulso. Eu achei engraçado ele esconder isso de todo mundo, ele vem fazendo isso a mais de um ano. E vendo aquelas fotos eu só percebia o quanto a gente era patético quando era criança, mas creio que todas as pessoas sejam.
O foda é que eu achava que ele era a única pessoa sã que eu conhecia, todo mundo que eu conheço é meio crazy, diagnosticado ou não. Ou é louco por ser pobre, ou é excêntrico por ser rico. E agora nem ele se salvou. Acho que no fim todo mundo é meio insano mesmo, não tem como escapar. É um pensamento meio triste, quando tu paras pra pensar, porque eu costumava pensar que ele era a única pessoa que eu daria uma cópia da minha chave caso um dia eu fosse viajar e precisasse de alguem pra dar de comer pros meus gatos, mas agora eu já pensei duas vezes, porque vai que ele tem uma crise e se mata no meu banheiro porque percebeu que o mundo não tem objetivo? Que todo mundo está por aqui pra não fazer nada de importante, que nós nascemos apenas para movimentar o mercado, querendo ou não, está é a triste verdade, este é nosso plano de vida, movimentar o mercado. Então no fim a gente só pode confiar em si mesmo, e este é um pensamento estranho, porque é uma pressão muito grande. E se acontece algo maior do que nós mesmos? Eu detesto tudo que exclui a individualidade de uma pessoa, eu não gosto de Deus, do governo, de classes, de guetos, de códigos de conduta, de leis, de uniformes, de autoridades... mas jogar todo o peso do mundo nos ombros de uma pessoa só, de si mesmo, as vezes me parece injusto. Não que eu esteja querendo fugir das minhas responsabilidades, eu só acho meio triste saber que aconteça o que acontecer, a gente sempre morre sozinho. Tu tens um filho, mas tu não precisas de parar de viver por causa do teu filho. Tu casa, mas tu nao precisas parar de viver por causa da tua esposa ou marido. Tu és uma pessoa, teu filho é outra e tua mulher é outra, e cada um tem mais é que se foder pra achar o que vai fazer da própria vida. Tem coisa mais deprimente do que aqueles pais tradicionais que querem de qualquer forma que os filhos façam a mesma faculdade que eles, que casam e tenham filhos e perpetuem a mesma vida burguesa medíocre que eles tiveram? Que são sempres cópias, de uma cópia, de uma cópia... o ego das pessoas é tão grande que elas tem filhos esperando que eles sejam iguais a eles. Ou melhor do que eles, o que é mais patético ainda, porque olha a pressão que tu jogas em cima de uma pessoa antes mesmo dela nascer. Teu filho vai ser diferente de ti. Provavelmente não vai ter nada a ver contigo. É mais provável ainda que ele te odeie. Lide com isso.
Beijos.

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